Quem acompanha o blog sabe que eu amei Perdida, da Carina Rissi. publicado pela Editora Verus, o livro foi um grande destaque da literatura nacional e para alegria dos fãs, a Carina terminou de escrever a continuação da história. E para comemorar o dia do leitor, carina resolveu presentear seus fãs com um trecho de Perdida 2.
Cuidado! SPOILLERS.
“…E então, bem atrás da mesa dele, pendurado como se fosse uma obra de arte, me deparei com a tela suja e borrada por meus dedos.
Segurei os ombros de Ian e me ergui o suficiente para olhar em seus olhos.
− Por que aquela coisa horrorosa tá pendurada na sua parede como se fosse um quadro de verdade?
− É um quadro de verdade! – ele afirmou, enrolando uma de minhas ondas no indicador.
− Não, é uma porcaria que qualquer criança de dois anos faria melhor.
Ian observou a tela, espalmando a mão grande na curva de minhas costas para que eu não caísse. Um sorriso orgulhoso brotou em sua boca perfeita.
− Eu gosto – comentou. − Observe a assimetria, a imprecisão nos traços, nenhum domínio das técnicas sobre a tela. Numa primeira interpretação de caráter geral este quadro apresenta uma total falta de cosmovisão, não há uma reflexão sobre os valores fundamentais em torno dos quais gira a vida humana. É difícil encontrar uma linguagem pictórica ou simbólica, até mesmo discursiva ou conceitual. Se dermos mais importância ao fator “Onde está o mata-borrão?”, chegamos à conclusão de que a negligente artista sente dificuldade em se adequar ao padrões e a expressa em cada pincelada.
− Tá legal – falei devagar, olhando-o com a testa encrespada. − Não entendi mais da metade do que você disse, mas tenho a impressão que você acabou de dizer que sou uma droga como artista.
Ele deu risada.
− Ainda não terminei. – Então se obrigou a voltar a fachada de crítico de artes. – Porém, se deixarmos tudo isso de lado e nos concentrarmos na relação estabelecida entre a figura oculta e as marcas de dedos, vemos que a qualidade do trabalho é significativa, e a mensagem rica e engenhosa.
− Ah, é, é? – Apertei os lábios para não rir.
Ele fez que sim, mantendo a expressão séria.
− Perceba com que riqueza o amarelo e o vermelho se entrelaçam, criando a ilusão de luz e profundidade. Como aquela torção ali no canto nos remete a um vórtice em constante movimento. Nesta perspectiva, percebemos que a negligência é proposital, ouso dizer sofisticada, para que os traços representem a liberdade da alma da artista. Observe aquela mistura de marrom e verde bem ao centro.
− Que lembra uma batata podre?
− Precisamente! – Ele lutou contra um sorriso. − A batata é o símbolo máximo do livre-arbítrio e a independência triunfando sobre as adversidades causadas pelo mata-borrão!
Eu gargalhei tanto que teria caído do sofá se Ian não estivesse me segurado com tanta firmeza. Ele ria também.
− Sério, Ian, é feio demais. Acabou com a decoração do seu escritório. Devia colocar no lixo.
− Meu amor, eu jamais poderia. Quando olho para esta tela me lembro da forma como foi criada. A razão daquela confusão de cores e marcas de dedos. Não há outra que seja mais preciosa ou mais bela para mim. Recentemente também adquiri muito apreço por aquela magnifica mesa de carvalho. E agora desejo acrescentar este confortável sofá a lista. − E esticou o pescoço para alcançar meu lábios. “
2 comentários on "Carina Rissi divulga trecho de Perdida 2"
Gostei muito estou ansiosa para ler. Saberia dizer quando a ira lançar o livro ?
Marilya, na bienal de Sp, em agosto :)
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